palavras leva-as o vento..porque não as leva o mar?

O reflexo do sol brilhava no mar, na areia e nos passos. Mas a mim perseguia-me uma nuvem enorme, cinzenta, chuvosa. O mar imponente balanceava sem pestanejar. Era bom ser mar, não reflectir ou entender. Ser só o mar e fazer música e ser apenas onda. A praia era tão linda, tão linda que a sua beleza sufocava a poesia. Porque nenhuma poesia poderia descrever como aquele mar era bonito... e como tantas vezes na correria dos dias não parei para olhar por instantes para aquele mar que parecia engolir tudo, que rodeava todas as casas da cidade. Mas hoje e por ínfimos instantes eu vi o mar e senti-me tão pequena. Tão pequena e sozinha. Apaixonada por esta ilha e apaixonada por ti. Só que tu não estavas. E apeteceu-me esquecer-te, porque me dói às vezes no estômago. Porque me dói estar dividida entre dois mundos. Ser dos dois e afinal não ser de nenhum. Querer partir e querer ficar. Sempre com a cabeça na lua, no mar ou no horizonte. Sempre com tantos projectos que acabo por me perder em tantas chegadas e partidas. Tu nem me viste, eu passei por ti mas nem viraste a cabeça. Não ergueste a tua mão para me tocar devagarinho como antes. Paraste e desististe da corrida e eu que estava quase a chegar à meta. Estou à tua espera do outro lado, daquele onde me conheci e encontrei, daquele em que me compreendes e sabes escutar. Onde estás tu?Atrás de que parede te escondeste? Será que mudei?Ou será apenas este cansaço, esta roda viva, que me impede de ver a beleza que sempre vi em ti e no mundo. E até em mim. Por isso hoje parei e olhei o mar e fiquei com vontade de voltar lá. Porque eu agora vivo na terra do mar. Onde o mar comanda e faz sonhar. E apetece ficar aqui para sempre. Mas uma parte chama no fundo de mim e diz-me que também devo partir.

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