Qual título?

È uma carta.Podia até ser para outra pessoa qualquer, mas sim, de facto é para ti. Eras o pôr do sol, céu raiado de sangue, tecto de uma praia qualquer. Só que tu não eras uma praia qualquer. Era isso que me fascinava. Tu, aventura que eu queria desesperadamente conhecer, desfrutar, saborear. Eras o meu coração a bater descompassado, a minha boca, que te chamava cerrada... imóvel.
Cada vez entendo menos da paixão. Eras.Acho que ainda és. Continuas a preencher os espaços da minha caixa toráxica. Respiro com força para te absorver. Às vezes,porém, sinto-me sozinha.Solidão. Sinto falta das palavras. Ouvi dizer que o romance morreu. Mataram-no. E eu queria ainda ouvir as palavras que foram esquecidas. Que arrancaram das páginas do dicionário. Que tantas mãos impuras violaram nos lábios, na testa, nos olhos.
Talvez não queira ouvir as palavras. Basta-me o silêncio. Um silêncio que não fosse um qualquer, estereotipado e mecânico, retirado de uma estante empoeirada de livros. Fervo de desejo por um silêncio nosso: polissemia, pureza, perdão, pérola, pedra, ponte, palavra. Silêncio-pureza, silêncio-pedra, silêncio-ponte, silêncio-palavra. Para nos livrar do medo do diálogo dos olhos e das mãos, ponte sobre as diferenças, palavra na língua.Pedra.Pedra.Pedra sobre o assunto. Qual assunto? O mais tolo de todos.A paixão. O amor.
Eu nem sei o que é o amor. Amor vem no dicionário? Deixa-me ser o teu dicionário.Esconde-me no teu Mundo. Eu. Cinderela (des)encantada, Bela (des)adormecida em sobressalto. A precisar de um sapo.
Sim, esta carta é para ti, mas podia ser para outro . Sê um princípe, só hoje. Faz de conta. Eu fecho os olhos e tu contas-me uma história “era uma vez”.Uma única vez. Para eu recordar na mimesis do tempo. Um minuto. Em que ressuscitámos o romance. Demos as mãos sem mentiras ou barreiras entre nós.
Amanhã volto a ser uma feiticeira. Volto a dizer que não tenho medo.Brincamos às escondidas.
Agora, só agora, sussurro no restolhar das folhas do Outono, que tenho medo. Sou uma fraude. Uma frágil e feminina criatura correndo em círculos à procura da própria sombra.Da agulha no palheiro. Mais fácil que buscar o amor e a sinceridade.
A sinceridade, contaram-me (mas não digam a ninguém) ficou com o dedo entalado. O dedo roxo. O sangue. Acho que a sinceridade continua com o dedo entalado. Aliás, todos nós temos o dedo entalado. E o burro preso. Como dizia a minha mãe.
Isto já não é bem uma carta. Estou apaixonada por ti. Gosto de comer limão sem açúcar. Adoro quando sussurras ao meu ouvido. Adoro o aroma do café na chávena. Gosto de te beijar. As nuvens parecem algodão doce não achas? Já chega. Queres? Pssst... então? Sim é para ti. È cliché? E daí? Eu sou ridícula. Ridiculamente louca. Queres?

Comentários

Fátima disse…
não é preciso título, nem destinatários, nem remetentes.
esta carta é para ti, é para mim, é para eles, os nossos corações, e os deles. para as nossas lágrimas, para os nossos sorrisos...e para aqueles beijos, onde vivia a paixão que voou para outras paragens. porque chega a uma altura em que a paixão despedaça o coração e temos de fechar os olhos até que alguém nos aperte com força e sussure: está tudo bem... alguém que nos abra os olhos e diga: não tremas, vai correr tudo bem...e é sempre assim, um ciclo. porque o amor ficou nas histórias. "para onde quer que se olhe, já não há flores, nem facadas..." - já dizia o miguel esteves cardoso...

parabéns ninfa... a sorte é que eu não preciso de óculos d sol aqui em casa... ;)
p disse…
Sem muito a dizer, só queria sublinhar que escreves coisas deliciosas...gosto de te ler, de te rever, de me identificar com tudo o que dizes...continua a publicar as tuas coisinhas, as cartas, a paixão...Gosto muito de ti! Um beijinho *
Anónimo disse…
pois...
parece q agr chegou a minha vez de ler sobre o amor, para n sofrer na ignorancia, iludido da beleza q este sustenta e q por momentos nos torna a pessoa mais segura e acarinhada do MUNDO! agr xoro, xoro por decobrir q sempre me enganaram e nao me deixaram vislumbrar o seu verdadeiro significado...
agr amo i odeio, xoro e sorrio mx no entanto n sei porque odeio mas tenh a certeza que sei porque amo... i sorrir, o unico motivo que pelo qual posso sorrir deve se provavelmente ao facto de... engracado cm podemos ser iludidos por tanto tempo! tolos do amor... mx soberanos do mundo!! apenas por momentos...

sinto odio mx continuo a ama la!

bjinhs marta*** exelente trablho ;)
Fátima disse…
é verdade...às vezes os sentimentos ficam pelo caminho. mas nao faz mal, o que importa é que existiram e q nos demostram q a vida é amar. conhecer a beleza de cada pessoa e amar!