Sensação...

A sensação. Aquela sensação. O pôr do sol a sair-me nas entranhas, um minuto somado de segundos, nenhum deles similar. A vertigem de cada um desses segundos em cada milímetro da pele, os poros a fecharem-se, a respiração retida, o suspiro mais profundo que a brisa de um vento áspero, vindo das paragens onde um dia quis estar. Deserto em África, tempestade de areia nos olhos, amanhecer em Marrocos. A sensação. As pálpebras a quererem fechar-se na força da torrente que nos arrasta. O beijo. Largando âncoras nas nossas bocas. Lançando amarras nos nossos lábios. O aperto. O desejo. Fazia tudo outravez. Só por um minuto daquela sensação. De te beijar e sentir a alma sair pela boca, e tu saires de mim pelos olhos. Levitação. Flutuar. Ousar. Viajar. Ser capaz de tudo. A sensação. Lágrimas a quererem sair de todos os poros, um fluxo energético a emanar de mim, uma corrente que nos atravessa. Parece que acendeste a luz cá dentro, como diz por aí. Como se tivesses achado o caminho, ou talvez toda a vida o soubesses, como se tivesse nascido para estar a beijar-te naquele segundo em que te econtrei. E a dor que sinto e me abrasa, esconde-se e refugia-se na memória dessa emoção. Como se fosse a sombra escondida atrás do luar. Mastigar o luar e cuspi-lo em estrelas. A sensação. Escrever com um lápis por cima das entrelinhas da vida. Os nossos lábios tão próximos, os corpos a inclinarem-se, o cérebro a pensar em sintonia. O vazio das palavras para te dizer , esse beijo que deu uma sensação de enjoo no coração e batidas descompassadas no estômago. Não, não foi ao contrário. Trocaste-me os sentidos, os teus lábios a cheirarem a noite perdida a vaguear em minhas mãos, a tua pele a ecoar gemidos inaudíveis e o teu olhar a saber a desconhecido. Misterioso. O vórtice a sair pelos dedos enfraquecidos da espera. Do tempo que as cabeças demoraram a se juntar e a terra a ficar bamba perante a magnitude desta atracção. Abro os olhos com a boca muda de espanto, o meu corpo tenso e relaxado em simultâneo. A sensação. Inteligível nas palavras.Sabes por acaso onde está o meu interruptor? Faltou a luz dentro de mim desde que a tua boca deixou o cais da minha. Engoli fósforos, mas a única coisa que arde é a falta de ti a latejar no meu corpo, num afago que anseio. Porque é que apagaste a luz? Cortaste os fusíveis dentro de ti? Ou foi algum frio gélido vindo do Norte, da neve branca das nossas emoções que congelou a lareira que acendias para iluminar e aquecer mesmo quando faltava a luz? Esqueceste-te como se liga o interruptor? Ou as minhas mãos já não têm força para vislumbrar o plexo da tua alma? Não sei... a luz aqui faltou, não ha candeias ou velas que se mantenham acesas, porque as lágirmas insistem em dar lugar a alguma penumbra. Porventura para te mentira que já te esqueci. Não me podes ver. Prescrutar a minha alma na expressão pálida do meu olhar. Olha pálido e artificial, lentes de contacto para quando te vir. Para fingir que já não te amo e tudo em mim é luz. Perceberás que não sou mais que uma mentirosa sem escrúpulos? È verdade, assim ficaremos os dois felizes. Ou tu ficarás em júbilo a pensar que nem sequer valia muito a pena, porque te minto e sou cobarde, porque te amo e não consigo lutar mais. È simples.Estou às escuras, estou cega, não sei econtrar o caminho de mim mesma, quanto mais o do teu coração.

Comentários

Fátima disse…
A luz apaga-se quando o sentimento foge, mas volta a acender-se no calor de um beijo de esperança...o amor nasce e renasce...temos de saber esperar por ele. =) qd há sofrimento o amor é nos devolvido duas vezes mais, porque o coração merece. =)
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