Poemas para a minha filha - VIII (Complexo de impostora)

O maior mistério da vida
Para além da morte e de onde acaba o universo
É descobrir como admitir, aos nossos filhos
Que não sabemos tudo,
Nem estávamos prontos,
Quando os tivemos.
Que eu não sabia tudo
Nem sobre mim nem sobre nada
E ainda estou a descobrir quem sou
E a minha vocação enquanto os dias voam
Enquanto conto trocos e faço contas no excel
Pergunto-me se sou boa no que faço e se
Todos os dias, para o resto da tua vida
Nunca faltará dinheiro
E seja lá o que quiseres ser
Que possamos sempre ajudar-te e ser exemplos
Mas como prometer-te isso, filha
Se nem eu sei do que falo ou que escrevo
E ainda ando aqui a brincar aos adultos
A usar palavras como carreira ou profissão
Se tudo o que eu quero é ser paga para fazer o que gosto mais
Que é escrever
Mas será escrever mesmo o meu dom?
Ou é tudo a fingir?

Em dias de complexo de impostora
Tudo o que queria era sentar-me contigo no chão e brincar
Esquecer as contas e só ser feliz
No meu mundo preferido que é o teu.

Comentários