Até quando
Até quando podemos ser crianças? Poderá ser para sempre, como na Terra do Nunca, do Peter Pan?
Só não quero perder a minha magia e a capacidade de acreditar e sonhar. Sonhar tanto, até me doer a barriga, porque os sonhos também nos confortam.
Quero atravessar as correntes incertas da vida sem deixar de me entusiasmar, rir até às lágrimas pelos maiores disparates, rodar a minha saia e dar voltas sem sair do lugar.
O que sobra quando perdemos totalmente a inocência e a bondade? Tem de existir um lugar em nós onde podemos guardar, a salvo, essa parte de nós.
Mas vai escondendo essa caixa de tesouros, porque se mostrares a parte mais pueril de ti a toda a gente, o mundo vai encontrar formas de te afastar dela, porque não é assim que devias ser.
Bem sei que não é assim, mas eu quero ser assado, conjugar todas as cores e usar laços no cabelo, trazer o sol dentro de mim e a luz, e levá-la comigo para todos os lugares, a falar pelos cotovelos, a tentar alegrar os que me rodeiam.
Choro e rio, zango-me e vivo, continuo a emocionar-me com a beleza e a poesia, com tudo o que pode acontecer à nossa volta, com as pessoas que podemos conhecer, com o que o futuro nos pode reservar.
E trago este segredo comigo. Lá no fundo, nunca cresci. Adaptei-me,mudei, vivi, aprendi e errei. Os anos correram atrás de mim e, por vezes, à minha frente. Mas guardo todas as peças originais de quem sou. Não perdi nenhuma. Não perdi o brilho do olhar da minha infância, enquanto tento agarrar o tempo e os demónios, que nos vão perseguindo.
E no fim do dia, quando deito a minha cabeça na almofada, acredito. E viajo até à Terra do Nunca, onde a magia nunca se esgota.
Comentários