Estórias soltas II

Os rochedos que se transformavam em casas, o castelo imponente lá no alto... Tudo em Monsanto apaixonava José. Nunca quis deixar a aldeia: sonhava em ter uma livraria, e que fosse ali mesmo, na terrinha que o viu nascer. Não havia nenhuma, em Monsanto. Em miúdo, adorava ler e aguardava com ansiedade a passagem da carrinha-biblioteca que viajava pelas aldeias do interior, nos anos 60. Mas, alto e espadaúdo, forte e de perfeita saúde, quando chegou a hora de partir para tropa não pode escapar - nem quando, mais tarde, o mandaram para o Ultramar. 
Quando regressou, após aqueles que seriam para sempre os piores quatro anos da sua vida, pensava que finalmente realizar o sonho de abrir a sua livraria. A primeira na aldeia.
Mas, em Monsanto, em vez de sorrisos e gritos alegres de felicidade, esperavam-no caras tristes e chorosas. O seu pai tinha morrido pouco tempo antes da sua chegada, e sabendo o tempo que as cartas demoravam a chegar a Angola, a família não lhe tinha dito nada. 
Em vez da livraria, José dedicou-se à barbearia do pai, com dívidas para pagar e obras para fazer: e acabou, enfim, por passar a amar o seu novo ofício.

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