Olá, como estás?
Sempre fui ardilosa com as palavras e aprendi a costurá-las, a usar um tear para criar sonhos e ilusões. Por isso, escrevo-te uma carta. Refugio-me na escrita, onde posso reproduzir a dor e permitir que ela deixe de doer enquanto a faço escoar pelas letras no papel. Serve de intermediária, é um filtro para as maldades do mundo, como a lente de uma objetiva.
Nesta carta que eu inventei, digo-te que tenho saudades tuas. Quando corrias livre pelo jardim, quando sonhavas como só uma criança inocente pode fazer. Já tinhas a escrita na ponta dos dedos, nesse tempo, enquanto rias e mergulhavas no mundo dos livros.
Tenho saudades tuas. Por isso escrevo-te, escrevo a mim mesma, à pessoa que fui há alguns anos, mas sem arrependimentos. Tenho sido feliz, não te preocupes. Mas por vezes, ainda me encantam as borboletas que sentias na barriga, a magia da adolescência. Digo-o nesta carta para me lembrar sempre. Para sair desta carta e correr por aí. Talvez ainda te encontre, a criança que fui, num lugar bem dentro de mim.
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