Aqui há gato
O gato ronrona feliz. Desprovido
das preocupações mundanas do ser humano, o olhar focado na mola da roupa esquecida
no chão da sala. É um motivo de brincadeira, e lá vai a mola descrevendo círculos, para lá e para cá, empurrada pela pata do gato curioso e feliz. De repente, o som de um porta-chaves que tilinta perto da
porta, e ao fundo o barulho do elevador. Os sentidos aguçados e o estado de
alerta, quando se ouve na cozinha o barulho inconfundível dos grãos de comida a
serem despejados na taça de metal. O grão no metal. E o gato ronrona feliz. É um ser curioso
sobre o mundo, ou para dizer a verdade, sobre o pequeno mundo que o rodeia. Na
casa onde vivem humanos que, estranhamente, não possuem a sua linhagem, pêlo
sedoso e olhos rasgados. Não lhes presta vassalagem porque, enquanto desliza
pela casa, tem a perfeita noção de que é o rei. É o mestre das nove vidas, que se
esgueira sorrateiro e se esconde. Especialmente quando não quer ser encontrado.
Ouve o seu nome mas decide ignorar os que o chamam. Neste momento ronrona feliz
enquanto lhe alisam os bigodes, esfregam o pescoço e afagam o lombo. O gato
simples e feliz enrosca-se no sofá e fecha os olhos, lentamente. Outras vezes
procura o calor reconfortante de um computador ainda ligado, e no inverno instala-se
perto da lareira acesa. Dorme e estremece em alguns sonhos mas ninguém sabe com o que
sonha este gato macio. Porventura com comida deliciosa e brinquedos divertidos.
Ou com uma pequena caça ao rato. Talvez ao infeliz que roeu a rolha da garrafa do Rei da Rússia. Não saberemos, muitas dessas histórias não podemos contar porque misterioso é o pensamento felino. Mas certamente aplica-se um habitual provérbio popular...
Aqui há gato. E ainda diz a sabedoria do povo que estará escondido com o rabo de fora. Se for escaldado de água fria terá medo.
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