O meu poema
No meu poema vais ser exatamente quem eu quiser. Os teus olhos podem cheirar a castanhas e os beijos que não me deste terão exatamente o sabor que eu inventar. A tua boca vai saber a mar misturado com sangue, das nossas bocas a rasgarem o tempo. As nossas línguas entrelaçadas vão dizer coisas impossíveis de compreender. Depois vamos afastar-nos e vais olhar para mim sem entender porque não consegues respirar, o ar demasiado pesado para ti. Mas não te vou responder, vou beijar-te. Depois vou convidar-te a fazeres amor com o meu sorriso. Vais sorrir e dizer que isso é impossível. Vou explicar-te, como se fosses uma criança pequena, que nos meus poemas não há impossíveis e que na história que eu contar tu serás a personagem que eu desejo. O teu riso vai flutuar até mim e encher devagar os locais adormecidos do meu corpo. E depois vou beijar-te mais uma vez. Só porque sim. Porque não? Vou deixar-te pensar que estás a controlar mas depois vou virar o teu mundo de cabeça para o ar. Sem ar. Ar. Vais tentar lembrar-te de como respirar mas já não consegues pois não? Vou despir as tuas incertezas e sussurrar baixinho ao teu ouvido. Em resposta o teu coração vai bater. Rápido. Acelerado. Um comboio a alta velocidade prestes a descarrilar. Olha para mim. Ar. Inspirar, sentir. Mordo o lábio devagar e fazes amor com o meu sorriso. O meu riso. O resto da história será exatamente a que eu for escrevendo, enquanto a noite atravessa a cidade. Aqui só vejo luz, enquanto o meu corpo se vai tornando incandescente, a minha pele na tua pele. Tu, esta noite, a personagem que eu quiser inventar. A tua boca a saber a vida, no meu poema.
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