Como mudar para um país diferente

Um dia ele olhou para mim, e fez-me feliz. Ele, com o seu olhar maroto mas tímido, misterioso como só ele. Abriu-me uma janela para o seu mundo, mas eu queria entrar pela porta. De tapete vermelho estendido, triunfante, qual Napoleão, queria conquistar o mundo dele e declará-lo meu. Para mim parecia tão simples como entrar numa loja e comprar qualquer coisa. E dizer que era minha. Para mim era óbvio que se eu gostava dele, ele tinha de gostar de mim. Mas percebi, para desespero da minha arrogância e temperamento impestuoso, que não era bem assim. Que amar alguém é como mudar de país. Tudo acontece aos poucos e a seu tempo. Primeiro temos autorização para nos mudarmos, deixam-nos entrar. Arrendamos uma casa só com portas e janelas. Compramos uma cama e decoramos a nossa nova morada, o número de telefone. Mas ainda não sabemos falar a língua. Aprendemos a dizer bom dia, boa tarde, bom almoço, mas ainda é tão pouco. Depois descobrimos que eles não servem pequenos-almoços depois do meio-dia. Acordamos mais cedo, mudamos rotinas. Descobrimos que ali o tempo é demasiado quente, renovamos o armário. E aos poucos a cidade que pintávamos todos os dias, de ruas e caras novas, a cidade em que volta e meia nos perdíamos e que nos frustrava porque pensávamos que já tínhamos decorado o caminho para casa, torna-se familiar. As ruas tornam-se amigas e já não nos confundem, o caminho é automático e simples, tudo se torna mais fácil e habitual.


Amar alguém é assim. Amar não é entrar de rompante e já saber o que ele costuma guardar em cada gaveta. Amar é descobrir, todos os dias, como se fosse o primeiro, é entrar em casa de bicos dos pés para não o acordar, até um dia deitar no sofá dele quando ele não está. Amar é assim. Um país, uma cidade, uma vida nova, que aprendemos a viver todos os dias.

Comentários

Marta disse…
amo isto:) descreves mesmo bem o que é o amor...
AR disse…
até me feriu os olhos ^^D