Naufrágio


 Posted by Hello
Solto as amarras do sonho que é pesadelo em que me prendias, em que me sorrias, em que fingias. Desancoro-me do teu mundo enevoado de ilusão, rasgo o mapa de palavras inconsequentes, de sentimentos forjados, e momentos inebriantes que lhe levaram até ti. Deixo a insignificante ilha de um arco-íris de vida, beleza e pureza aparentes que és tu, abandonando a quimera que teces entre ti e os outros. Parto desafiando o oceano tumultuoso do meu coração, cortando as ondas de revolta que se levantam ao meu olhar vestido de raiva. Sinto a maresia e a brisa fresca do mar tocando o meu rosto ferido e magoado de mentira. Estremeço no barco fragilizado pelas viagens loucas em que me levaste, pelo naufrágio que provocaste. O vento uiva a voz que me roubaste, grita o meu sufoco, e conduz os restos da alma que se perdeu em viagens de mentiras e naufragou em ti, à terra que inocentemente deixei. Reencontro a minha alma e prendo novamente as minhas amarras à verdade, à vida, e no horizonte não alcanço a tua ilha. Perdeu-se num estonteante acumular de realidades forjadas, como tu.

Comentários

Daniel Cardoso disse…
Pois é. Quantas e quantas vezes nós falamos com alguém, somos tocados no coração por esse mesmo alguém e depois essa pessoa se mostra mesquinha, infantil, incapaz de se comprometer com o seu próprio coração e ainda mais incapaz de perceber que faz sofrer os outros, preferindo iludir-se sob o manto da vitimização e dos ataques sub-reptícios? Quantos punhais cravados nas costas não temos alguns de nós? Quem mais promete e quem mais dá de si acaba quase sempre por se tornar a pessoa que só dá aquilo que não é, e que só promete aquilo que se julga ilibada de conseguir cumprir.
É um dos maiores insultos à vida utilizar as pessoas como se fossem instrumentos. Se, por cima de tudo isso, se juntar a duplicidade e a falsidade de uma boca que não sabe falar senão aquilo que convém a quem a ouve e uns ouvidos que não sabem ouvir senão aquilo que lhes convém na altura, teremos um panorama.

E a pessoa que fica para trás, a pessoa que é abandonada ao vento, às marés que trazem sempre a destruição de uma parte da pureza da alma humana, é quem sofre. Porque quem usa os outros não tem em si espírito suficiente para sofrer, não tem em si humanidade suficiente para sequer merecer algum conforto ou compaixão. No fim, se ainda existe justiça nalguma qualquer forma neste universo, tal quase-pessoa acabará por ser encerrada no seu mundo de ilusões e mentiras, sabendo e saboreando verdadeiramente o veneno do abandono. Só que aqui não será mero abandono, será um verdadeiro ostracismo, uma repulsa que a sociedade sente ainda por quem pensa poder governar as mentes dos outros sem apelo nem agravo. Fiat!

Prometeu
Fátima disse…
podemos fingir e mentir muito, mas a verdade descobre-se sempre...