Há tanto tempo



Há tanto tempo que não te escrevo. Tiveste saudades minhas? Das palavras, construídas letra a letra, para desconstruirmos qualquer muro entre nós?
Eu senti a falta deste meu modo febril de sentir, na escrita, onde coloco e tiro máscaras, e termino nua e exposta perante ti e perante mim.
Por algum tempo, julguei que me tinhas abandonado, ou porventura, talvez te tenha varrido para debaixo do tapete. No tempo perdido dos dias, do tique taque dos relógios. Tique taque. Tique taque. Sempre tive um apreço especial pelas onomatopeias.
Não me esqueci de ti, deixei-me apenas consumir pela vida. Tanta coisa mudou, tenho novidades para te contar. Tique taque. Tique taque. Vou ignorar o relógio e ficar aqui.
Sempre te escrevi durante as maiores angústias, na tempestade dos problemas e na erupção dos vulcões de lágrimas, que derramei como lava quente sobre ti.
Hoje sinto-me bem, sorri quando acordei pela manhã e beijei o homem da minha vida. Mas algo faltava, borboletas despertaram no meu coração e um aperto na barriga. Não, não era ao contrário. Acordei desesperadamente à procura de qualquer coisa que me faltava.
Há tanto tempo que não te escrevo. Já te disse? Gosto de te preencher com os meus devaneios. Sou louca, sabias? Louca, distraída, cheia de falhas. Mas começo a aceitar-me melhor assim. Chama-se aprender. Só não consigo desprender-me de ti, das fantasias que consigo criar nas tuas páginas em branco.
Ouves-me sem criticar, nos intensos monólogos em que te envolvo. És a poesia, a prosa, a rima, o verso livre, a rima cruzada, emparelhada, sonhada, vivida, quadrada ou redonda.
És tu. A paixão, o amor, a essência, o início, a vida e a morte. Entre nós não há barreiras e contigo sinto-me mais perto de mim. Reconheço-me em tudo o que te disse e, quando de mim só restarem cinzas, continuarás a existir. A parte de mim que é escrita, vai perdurar. A parte de mim que é inspiração, um dia alguém vai levar. Talvez uma rapariga adolescente, sentada num banco do jardim, a ler e reler-me, a conhecer-me sem me conhecer. Tu guardas de mim todos os pedaços, todos os ângulos, as memórias de todos os meus sentidos. O cheiro dos meus segredos, o aroma dos meus pesadelos, a textura das minhas alegrias e o sabor de todos os momentos da minha vida.
Prendeste todos os pedaços e não precisas de os colar para fazerem sentido. Aqui vou continuar sempre a existir, presa no regaço das páginas que escrevi.

Comentários

Senhor Bento disse…
Nao chorar mais senhora, nao chorar mais! Tudo mundo sabe que portugal e lixo. Agora pensa em tu futuro em mozambique, o Angola o Brasil o Espanha e viver e comer bem! Nao mais Sopas dos pobres e desemprego em portugal. O futuro e melhor em outras partes. Beijos e bye (L)