O meu tio Gustavo

Na véspera do dia do meu nascimento, roubaram o carro ao meu tio Gustavo. Ele e o meu tio Gil também viviam lá em casa, e todos assistiram à cena, de camarote na varanda. Quando o seu querido Datsun se afastava, com mãos que não eram as suas ao volante, o tio Gustavo largou a correr pela rua, de pantufas, atrás do ladrão. Foi quando rebentaram às águas à minha mãe, enervada com o roubo. A história, que se conta quase todos os anos por altura do meu aniversário, lembra-me sempre como a minha vida ficou para sempre ligada à do meu tio Gustavo, um dos mais novos dos meus tios. O meu tio Gustavo, irmão mais novo da minha mãe, é como um irmão mais velho para mim e um irmão mais novo para o meu pai. Trabalha com ele e durante muitos anos, almoçava connosco lá em casa, e para mim era como se ainda ali vivesse. Na verdade, ele nunca deixou de ser lá de casa, tal como o resto dos irmãos da minha mãe nunca deixam de ser de casa por mais que se casem, se divorciem ou vão viver para a Austrália. Mas a verdade é que o tio Gustavo, por estar sempre por perto, teve o trabalho mais ingrato de ser tio, a parte mais aborrecida: quando o meu pai não me podia levar à escola, ia o meu tio; quando não me podia levar ao médico, ia o meu tio; quando o meu pai estava na aldeia e o meu carro avariou no meio de uma rotunda, foi o meu tio que me foi acudir. A verdade é que sempre esteve e está implícito que o tio Gustavo pode quando o meu pai não pode, como se o tio não tivesse nada melhor que fazer. Usamos e abusamos da boa vontade do tio Gustavo, e ele nunca nos diz que não.
O tio Gustavo é solteiro, nunca casou mas tem dez filhos: os sobrinhos, de quem ele sabe todas as datas de aniversário, o ano em que terminámos a faculdade (talvez porque tenha sido dos poucos a aturar a bênção das fitas toda até ao fim, essa cerimónia que nem os nossos pais aguentam), e o ano em que o primeiro sobrinho-neto nasceu. Ele não precisa do facebook nem de uma agenda para se lembrar. Felizmente, e apesar de ser uma sobrinha abusadora, também não preciso do Facebook para me lembrar que o meu tio Gustavo faz anos hoje, 28 de Novembro, quando o tempo e os centros comerciais se preparam para o Natal. Hoje é dia do tio Gustavo. Hoje é dia do tio Gustavo porque ele foi ao lançamento do meu livro, quando quase toda a família teve de ficar a trabalhar. Hoje é o dia do tio Gustavo porque ele ficou triste por não o ter convidado para a defesa da minha tese, por ser demasiado entediante, e ouvir como resposta "mas eu ia à mesma". Hoje é dia do tio Gustavo porque ele foi ao lançamento do projeto da minha prima mais velha, e até esteve atento aos pormenores mais aborrecidos, enquanto eu pensava no calor que estava nesse dia. Hoje é dia do tio Gustavo porque ele sorri de forma tão feliz quando nos tira uma foto ou grava vídeos a soprar as velas no aniversário (é sempre ele o único que se lembra de pegar no telemóvel e tirar fotos nestes momentos). Hoje é o dia do tio Gustavo porque ele faz-me rir quando diz que as festas da aldeia são todas iguais e não valem nada. Hoje é o dia do tio Gustavo porque todos os dias para ele são dias dos sobrinhos. Um tio assim tem de ter direito a um dia, pelo menos. Feliz dia, tio Gustavo. Gostamos muito de ti! Bem haja por seres o mano mais velho e o segundo pai dos sobrinhos que te dão (alguns) cabelos brancos.

Comentários

Gustavo Gomes disse…
Minha linda e amada sobrinha Fátima quero agradecer-te as lindas e sentidas palavras de apoio principalmente no dia 27 de Novembro que foi um dia difícil para mi mas com o teu carinho e da Família tudo ficou mais fácil um grande bem-aja,como eu gostaria de me expressar pela escrita o que sinto no coração a respeito de ti e de toda a família, muito obrigado por tudo desejo-te toda a felicidade do mundo se precisares de mi estarei sempre pronto para te apoiar em qualquer situação.Beijos e abraços deste teu tio que te ama muito.
Fátima disse…
Fiquei emocionada com as tuas palavras ti Gus. ♡ Bem haja, estaremos sempre aqui para o que precisares!!!!