demasiado velha

Uma grande amiga escreveu há pouco no facebook: "pergunto-me o que foi feito da calma que sempre tive e porque deixei de dançar sem obrigação de acertar em todos os passos...que música é esta? (...) estou na plataforma dos 20 aos 30...sinto pressão, correria, sinto que algo tem de ser sacrificado para que tudo aconteça muito rápido (...)" (Elisa Rodrigues). Há muito tempo que não falo com ela, o mundo afasta-nos das pessoas na pressa do relógio e sem querer perdemos as amizades de quem soube sempre dizer as palavras certas. E é incrível como estava a precisar de ler estas palavras, como há tanto tempo pensava no mesmo e não sabia como o dizer. Reconheci-me de imediato, a pressa, de fazer, de acontecer, de mostrar, dos 20 aos 30. Aos 20 és novinha, fazes estágios, "tens tempo", dizem-te, não tenhas medo, irás chegar onde estão os outros. Os 20 avançam e continuam a dizer-te (e tu mesma) que ainda tens tempo, que até o Saramago fez um hiato da escrita dos 20 até quase aos 30. Mas a idade avança, os dias correm e agora pedem-te provas, medalhas no currículo, enquanto tentas manter um emprego a contrato perguntam-te pela tua carreira. Mal equilibras trinta mil tarefas e exigências em oito horas diárias, esperam que saibas onde estarás daqui a 5, 10 anos. Com quase um milhão de desempregados no teu país, esperam que te sintas sortuda por teres um emprego, e sentes, mas como podes sonhar e querer uma carreira se o desemprego espreita, qual bicho-papão a cada esquina? No entretanto tens de trabalhar na zara, no café, na loja do pai, emigras à pressa para fora para trabalhar noutra zara e noutro café. Mas até aos 30, deus-te-livre de não teres uma carreira pensada, definida, de não saberes onde estarás daqui a 5 ou 10 anos. Deus-te-livre, que daqui a menos de 4 anos és demasiado velha para estagiar, demasiado velha para estar desempregada, mas de certeza, ainda demasiado ingénua para ter as certezas que já esperavam de ti, aos 26 anos.

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