Pétalas

Pétala a pétala se constrói a flor. E o poema. Que vem de dentro, como sangue a circular no caule esguio até chegar ao topo. O vento transporta o poema, pólen a revirar nas asas gentis da brisa do mundo. Pétala a pétala vamos morrendo enquanto o corpo se desfolha em cada madrugada da nossa existência. Pétala a pétala vamos construindo o amor. Bem me quer, malmequer, bem me quer. Só que o amor tem demasiadas pétalas e flores e acabamos perdidos no jardim. Pétala a pétala vamos seguindo o caminho, sem sabermos exactamente se é o correcto. Mas é disto que os sonhos são feitos, de pétalas a cheirar a almíscar e jasmim, de longes feitos perto, de orquídeas que nunca passaram de rosas cheias de espinhos. De pétalas de sangue, de pétalas de lágrimas. Cubro a cabeça com as mãos e choro pétalas de tristeza que se desprendem da flor do meu coração. Ninguém disse que a vida ia ser um mar de rosas. E se as rosas têm espinhos, eu quero um mar de pétalas para construir poemas. E quando a última se desprender e me disser que o meu lugar já não é aqui, partirei tranquila. Seguirei a viagem até ao outro lado do rio, onde o coração já não bate. Porque pétala a pétala também morre a flor.

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