A água estava fria. Estava tão fria que o meu coração batia como um tambor enlouquecido por entre as ondas. Depois vi-te lá ao fundo a mergulhar no imenso azul e senti um calor estranho invadir-me. Talvez porque enquanto te vi mergulhar no mar senti-te mergulhar em mim. O amor é um mergulho. Às vezes batemos com a cabeça nas rochas e dói, dói muito. Outras vezes a água é pura, refrescante e apetece nadar até ter pele de galinha. Estendi-me na areia do teu abraço e nada mais interessava. Nos teus braços o tempo descolorido, sépia, negativo, preto e branco. Parado na imensidão das coisas que dissemos um ao outro sem nenhuma palavra. Era fácil de entender que o nosso amor era um mergulho bem sucedido. E eu que sempre nadei mal, com medo de ser arrastada pelos ventos e pelas marés. Pegaste-me ao colo e as minhas pernas levantaram voo, depois a minha cabeça seguiu o compasso das minhas pernas e fundi-me com a beleza de céu, sol, mar, tu. O sol brilhava e pareceu-me, por momentos, que sorria. Ou, porventura, reflectia o meu sorriso-concha, que se abria pela praia fora. Os meus pés e os teus brincaram na imensidão do arenal e a tua mão pousou discretamente no meu ombro. Os teus olhos tocaram a minha alma e naquele instante foi como se tivesse acabado de te conhecer. O mesmo riso, a mesma criança que eu vi aos tropeções dentro de ti ansiosa por brincar no mundo. Aquela esplanada e o modo como o amor nasceu debaixo da nossa varanda. E apaixonei-me uma e outra vez naquele instante. Depois deixámos a praia e os dias ensolarados de beijos. Aí acordei e a cama estava vazia, telefonei-te para dizer que não estavas lá. Gostava que estivesses. Então mergulhei dentro dos lençóis. Bati com a cabeça. E doeu, doeu muito. Mas tu nem sentiste.
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Sofia*