O éden dos amantes
E então a lua escondeu-se. “Não há nada para mim aqui”, pensou. Apenas uma figura inanimada destinada a proteger a humanidade, um archote no meio da escuridão. A lua escorregou silenciosamente, um baloiço prateado descendo os céus. O mundo inteiro, impávido, assistia à escuridão enquanto a lua descia e rodopiava pelo céu. As estrelas murchavam, o céu perdia a beleza. A lua rodava e rodava em redor de si mesma, para fugir para fora da galáxia. Porque o mundo era triste, porque os homens faziam actos capazes de gelar o coração. A lua era a luz dos amantes, mas a humanidade perdera o sentido do amor. A lua era a luz da esperança, mas os homens já não sabem cultivar esperança. Então, de repente, uma luz brilhante, maior que o mundo apareceu. Uma luz que ofuscou a lua na sua lenta viagem para fora do mundo. Era uma luz tão límpida como uma lágrima de amor. Era uma luz tão bela que transportava dentro de si todas as coisas boas que era possível sentir. A luz enchia tudo, e a lua procurou-a. A fonte de onde brotava. E viu um jardim. Um jardim enorme e frondoso que parecia esconder o segredo. A lua entrou, mantendo-se à distância elevada no céu. No jardim, viu a origem do brilho que lhe tinha acariciado a alma. Um casal jovem beijava-se no meio daquele espectáculo de flores, ávores e plantas. Era um beijo tão longo e silencioso, mas que dizia todas as palavras que nenhuma palavra poderia expressar. Pelo menos não assim, tão perfeitamente. Como um pintor, que guiado pela inspiração, completa o mais maravilhoso quadro já alguma vez feito. Naquele beijo de fome, desejo e ligações profundas a lua sentiu o amor. Descobriu que no cosmos ainda havia esperança. Era aquele beijo, o condensar de tantas esperanças. Era aquele toque, quando o jovem se afastou da amada e lhe tocou na face, nas têmporas, lhe beijou os cabelos. Estava nas lágrimas que a jovem chorava quando os amantes por fim se afastarem. E ela viu a jovem caminhando descalça no jardim, iluminada apenas pela luz daquele amor. Viu-lhe o sorriso que parecia querer saltar e inundar tudo. Era aquele sorriso. Apetecia morrer naquele sorriso, sonhar naquele olhar. Então a lua subiu ainda mais no céu, bem para cima. Iluminou ainda mais as faces coradas da jovem apaixonada. Tão apaixonada que parecia protegida por uma teia de amor. Em que nada, nada do mau do mundo parecia poder penetrar.
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