Sopro do Coração

As pedras caíram e as folhas espalharam-se pelo chão. Os arbustros e as árvores de mais finos e leves troncos respiravam de alívio e pediam baixinho aos animais da floresta desculpa pelos chicotes a que o vento os levou a todas as criaturas que por eles passavam. A tempestade acabara mais cedo para todos. Fora um forte mas curto tornado. Talvez o vento estivesse atrasado para dançar noutro coração, sussurraram os esquilos para os pássaros, e estes para as corujas violentamente acordadas a meio do dia, e estas para os unicórnios e centauros numa silenciosa corrente. E entre os estremunhados animais que despertavam confusos do furacão, jazia uma menina, de vestido e avental azul, nas grossas raízes de uma centenária árvore, de sapatos de verniz empoeirados e rasgões por toda a roupa, sangrando da boca e do nariz, que mesmo assim dormia a sono solto, tranquila de meio sorriso. E os pequenos animais olharam-se entre si, um por um, novamente na harmonia da sua corrente muda, cumplicidade sem palavras. O vento tinha vindo por ela, revolteara-a e sugara-lhe o último sopro do coração, que lhe prendia o viver, que lhe sufocava o respirar. E o sopro foi pelo vento, por isso é que ele agora uiva e serpenteia nas árvores como se gemesse, dói-lhe o amor que a menina tinha.

Comentários

Anónimo disse…
=') ....

tocante! parabéns pelo livro e por tudo!!=P

BOa sorte!
Anónimo disse…
queria também "parabenizar" as autoras pelo seu excelente trabalho, esse que é o da arte da escrita!

MUITOS PARABÉNS!

P.s.lamento não ter estado presente no lançamento =/

Continuem!!****
Anónimo disse…
e cada vez adoro mais.. ler o que escrevem é sentir-vos em nós. escondidas às vezes, expostas noutras vezes. Umas vezes vocês próprias, outras vezes outro alguém. Mas é vossa a escrita. e gosto muito
Marta disse…
Este post é tão bonito....podia analisar e dizer muito mais..mas prefiro sentir...e imaginar como se assistisse em directo..a esse vento a essa menina tão sabiamente descrita nas tuas palavras....escreves cada vez melhor ísis.