tag:blogger.com,1999:blog-108015752024-03-08T11:34:32.797+00:00LetraSoltasTurbulência de sentir nas palavras.Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.comBlogger659125tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-6009099035247803182023-07-11T21:32:00.010+01:002023-07-13T00:11:00.716+01:00Poemas para a minha filha - X (para sempre)<p>Minha filha,</p><p>Um dia vou contar-te que descobri por fim como dar-lhes vida outra vez</p><p>A todos, os meus que já partiram</p><p>Contigo, a cantar as músicas que o meu avô inventava</p><p>E que um dia ensinou à minha mãe e aos meus tios</p><p>Que me ensinaram a mim.</p><p>Enquanto corro contigo pela aldeia </p><p>Como quando éramos pequenos</p><p>Nós, os primos.</p><p>Quando te faço penteados como ela me fazia a mim</p><p>(Quando ninguém sonhava o que um dia ia acontecer</p><p>Tudo o que ia acontecer</p><p>E como tudo ia mudar).</p><p>Um dia vou contar-te como contigo eles vivem para sempre</p><p>Mesmo que ainda nem tenhas aprendido os seus nomes</p><p>Nem possas já reconhecer as suas caras</p><p>Eles estarão vivos para sempre, em ti.</p><p>E a cada sorriso teu</p><p>Nas músicas que eram deles</p><p>Nos momentos que eram nossos</p><p>Calam-se as lágrimas em mim.</p>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-85692899020123557332023-06-22T07:34:00.006+01:002023-07-04T11:22:14.445+01:00Poemas para a minha filha - IX (A cama dos pais)<p>Acordar e ficar a olhar para ela,</p><p>Como um anjinho, a dormir</p><p>As bochechas esborrachadas contra a almofada</p><p>A tranquilidade feliz de um sono profundo, amado</p><p>Na cama dos pais</p><p>Com a mãozinha no meu cabelo, como sempre gostou de dormir</p><p>(a que chama seu, porque tudo o que é meu é agora dela)</p><p>A felicidade que o universo, ou Deus, ou os nossos corpos,</p><p>Nos deu</p><p>O milagre da vida</p><p>O milagre de ti</p><p>O teu sorriso, a tua gargalhada traquina</p><p>E agora a tua paz adormecida </p><p>Por agora não há contas para pagar</p><p>Nem textos por entregar</p><p>Nem objetivos por cumprir</p><p>Há apenas as tuas bochechas na almofada</p><p>A tua mãozinha no meu cabelo</p><p>Todo o amor com que eu um dia apenas podia sonhar</p>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-43692119174657158352023-01-10T00:10:00.000+00:002023-01-10T00:10:18.298+00:00O verdadeiro significado das palavras<div>Medo. Não aquele dos papões, do escuro ou de fantasmas escondidos no roupeiro. Medo a sério. Ensinaste-me o que os dicionários nunca saberão dizer sobre o verdadeiro significado das palavras. És tão pequenina, quando adormeces no meu regaço, e os meus receios são tão grandes. Enchem a noite de demónios e de perguntas. Medo de te perder. Medo de não te conseguir proteger. </div><div><br /></div><div>Minha querida filha, enquanto te escrevo, deixa-me contar-te o que me ensinaste também sobre o amor. Cheira aos sorrisos que partilhamos a cada brincadeira, enquanto gesticulas e te maravilhas com as pequenas coisas do mundo. Tem a textura de uma música de embalar ou de uma valsa, em que rodopiamos sem parar. O amor sabe a nuvens fofas, a estrelas num céu límpido, e a tudo o que a nossa imaginação nos conseguir dar. Consigo sentir as cores deste nosso amor, numa mistura efervescente de tons cálidos. O meu amor acontece em perfeito estado de sinestesia. </div><div><br /></div><div>Porque talvez o amor chegue sempre em estado de confusão. Vira a nossa vida do avesso, liberta borboletas que não sabemos bem de onde vêm mas que se alojam na nossa barriga, e parece que o nosso estômago vive num constante estado de montanha-russa, para cima e para baixo. A paixão faz-nos rir e faz-nos chorar, numa catarse de emoções perdidas. O amor move-nos, conduz-nos, e leva-nos a tomar as atitudes mais irrefletidas e ridículas. </div><div><br /></div><div>O amor é uma aventura, e és tu que me guias com a tua mão pequenina. Abraças-me e derretes-me como um gelado deixado ao sol no verão, na mão de uma criança. E volto a trocar os sentidos todos, porque posso jurar que o teu abraço tem os cheiros da minha infância. </div><div><br /></div><div>Contigo regresso ao tempo em que também eu fui criança - talvez uma parte de mim ainda nem tenha crescido -perdida num mundo de faz-de-conta, com chás imaginários em chávenas vazias, bolos feitos de plasticina, e onde as respostas mais simples podem solucionar as questões mais complicadas da humanidade. </div><div><br /></div><div>Só ainda não sei resolver o medo. Nem compreendi a que cheira ou a que sabe. Talvez por se esconder em sítios muito escuros, cheire a mofo. Deve saber a torradas demasiado queimadas, que alguém esqueceu na torradeira. Mas o medo nunca nos deixa esquecer. É o reverso do amor e gosta de o perseguir como uma sombra.</div><div><br /></div><div>Ensina-me a não ter medo querida filha, ensina-me mais sobre o amor. Deixa-me aprender contigo o verdadeiro significado das palavras.</div><div><br /></div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-47632702746823594242022-12-27T00:38:00.004+00:002022-12-27T00:41:34.463+00:00Partir <p>Como é difícil saber onde pertencemos. Na aldeia o bater do coração abranda, cada noite de sono sabe a mil, e a cada esquina descubro-me pequena e insegura aos trambolhões na bicicleta, tão pura e feliz como só uma criança pode ser. Aqui me vejo e encontro, mas também lá longe, onde tantas vezes os dias passam mais depressa, sou eu quem esquece o mundo enquanto escreve e namora cada palavra que faz nascer no teclado, sou eu quando me aninho a ti a cada fim do dia e me vejo nos teus olhos, sou eu que rio e adoro com cada pedacinho do meu ser aquele amor pequenino que nos faz tão felizes. Sou eu, na aldeia ou na cidade, sempre eu, mas como é bom regressar aqui e saber que neste lugar, eu nunca me perco.</p>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-80327648363439364012022-12-21T00:42:00.005+00:002022-12-21T00:45:41.763+00:00Poemas para a minha filha - VIII (Complexo de impostora)O maior mistério da vida<br />Para além da morte e de onde acaba o universo<br />É descobrir como admitir, aos nossos filhos<br />Que não sabemos tudo,<div>Nem estávamos prontos,</div><div>Quando os tivemos.</div><div>Que eu não sabia tudo</div><div>Nem sobre mim nem sobre nada</div><div>E ainda estou a descobrir quem sou</div><div>E a minha vocação enquanto os dias voam<br />Enquanto conto trocos e faço contas no excel</div><div>Pergunto-me se sou boa no que faço e se</div><div>Todos os dias, para o resto da tua vida<br />Nunca faltará dinheiro</div><div>E seja lá o que quiseres ser<br />Que possamos sempre ajudar-te e ser exemplos<br />Mas como prometer-te isso, filha</div><div>Se nem eu sei do que falo ou que escrevo</div><div>E ainda ando aqui a brincar aos adultos</div><div>A usar palavras como carreira ou profissão<br />Se tudo o que eu quero é ser paga para fazer o que gosto mais</div><div>Que é escrever</div><div>Mas será escrever mesmo o meu dom?</div><div>Ou é tudo a fingir?</div><div><br /></div><div>Em dias de complexo de impostora<br />Tudo o que queria era sentar-me contigo no chão e brincar</div><div>Esquecer as contas e só ser feliz</div><div>No meu mundo preferido que é o teu.</div>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-22879896811845024442022-11-08T12:25:00.009+00:002022-12-19T22:37:52.819+00:00Poemas para a minha filha - VII (Saudade)<p>Um dia, filha</p><p>Vou contar-te que aprendo todos os dias a ser mãe</p><p>Com as mulheres da minha família</p><p>E como percebi que isso nos une a todas</p><p>Numa sororidade bonita de memórias e recordações </p><p>Mais forte que termos o mesmo apelido</p><p>Mais forte que uma árvore genealógica</p><p>É sermos amor</p><p>Aprendo com a minha avó</p><p>Quando me lembro dela a fazer arroz doce, mílharas ou filhozes</p><p>Sopa para nós e caldo escoado para o meu pai, como ele adorava</p><p>Pronto às 2h da manhã, quando chegávamos de Lisboa</p><p>Aprendo com a minha mãe</p><p>Colo de todos os minutos</p><p>Consolo de todos os momentos</p><p>A palavra certa e o conselho na ponta da língua</p><p>O xarope para cada doença e as músicas preferidas da neta</p><p>Aprendo com as minhas tias</p><p>Que são segundas mães<br /><br />Abraços apertadinhos</p><p>Olhos brilhantes de carinho</p><p>Aprendo com as minhas primas</p><p>Que foram mães primeiro que eu e já sabem tudo de tudo</p><p>E aprendo com a saudade, com a voz dela que ficou gravada em mim para sempre </p><p>A minha Nini, que tanto gostava de receber as tuas fotos e vídeos</p><p>Cada gracinha e palavra nova </p><p>Que espero que a tenham feito sorrir um pouco entre tudo o que passou</p><p>E agora a falta que me faz o colo dela e as dicas sempre certeiras</p><p>Aprendo que a dor não se vai embora </p><p>Mas que tu, minha filha, ajudas a amparar.</p>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-44129676255612599782022-11-08T11:47:00.005+00:002022-11-08T11:51:29.763+00:00Poemas para a minha filha - VI (Relógio com pressa)<p> Cada 5 minutos contam</p><p>Na maternidade</p><p>São mais 5 minutos para passar a fruta</p><p>Antes de começares a chorar com fome</p><p>São mais 5 minutos de silêncio</p><p>Antes de acordares da sesta</p><p>São mais 5 minutos de colo</p><p>Antes de adormeceres</p><p>São 5 minutos no trânsito</p><p>E já estás atrasada para a aula de ginástica</p><p>Ou para o almoço com os avós</p><p>São 5 minutos para a consulta no pediatra</p><p>E é preciso mudar a fralda</p><p>Nunca cada minuto contou tanto como desde aquele minuto em que nasceste</p><p>Nunca o tempo correu tanto desde as 15h10 de dia 4 de dezembro de 2020</p><p>Nunca 5 minutos foram tão importantes</p><p>Como os 5 minutos que passo contigo</p>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-82288151603890106402022-11-07T00:20:00.004+00:002022-11-08T11:48:49.653+00:00Poemas para a minha filha - V (Abraçar-te)<p>O teu abraço de braços pequeninos</p><p>É o maior de todos em amor </p>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-46444355603063164052022-11-06T11:02:00.005+00:002022-11-08T11:48:30.840+00:00Poemas para a minha filha - IV (Tu, nós)<p>Naquela manhã de domingo olhei para ti</p><p>Despenteada e de pijama ainda grande para o teu tamanho </p><p>A rir e a correr pelo corredor</p><p>E pensei que era mesmo por ti que esta casa esperava</p><p>Para encher as paredes de quadros de super-heróis e poemas de gargalhadas e brincadeiras de criança</p><p>De um amor maior que o sonho</p><p>Da família que eu queria</p><p>Da família que me pinta as paredes de casa de vida </p>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-78191134036306294192022-10-28T10:09:00.004+01:002022-11-08T11:48:17.136+00:00Poemas para a minha filha - III (Amor)<p>Eu era capaz de fazer mil quilómetros por uma paisagem <br />Atravessei o mundo para conhecer o país dos meus sonhos<br />Para agora descobrir que o meu grande amor <br />Nasceu dentro de mim. </p>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-18773388618919808862022-10-18T14:52:00.004+01:002022-10-18T14:52:28.675+01:00Filhozes de NatalElas estendiam a massa nos joelhos antes de pôr a fritar e a pequenina aguardava, ansiosa, com o açucareiro nas mãos, orgulhosa da sua importante missão. "Sem ti não conseguimos fazer as filhozes! Tens de vir pôr o açúcar", dissera-lhe a avó. E a menina largou prontamente as suas bonecas e correu para a cozinha do curral, no piso inferior da casa, onde se preparavam as filhozes do Natal e se estendiam os enchidos depois da matança.<div> <br />Assim se passava uma das tardes de que ela, agora, 30 anos depois, mais tinha saudades. A preparar filhozes com a avó e a mãe, para a véspera de Natal, confidente das suas conversas de crescidas sobre isto e aquilo e aquele e o outro, a lista de compras para o dia 25 e as sobremesas a preparar. E como cheiravam bem as filhozes ainda quentinhas. Cheiravam a amor, a família, à saudade das cadeiras já vazias.</div>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-37064669015947006922022-10-15T11:10:00.002+01:002022-10-16T00:33:31.036+01:00Porque escrevo<p><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small;">Porque escrevo? <br /></span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small;">Porque tive uma infância de risos e gargalhadas e abraços de arroz doce<br /></span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small;">Com amor de olhos nos olhos e almoços de falar por cima uns dos outros e os miúdos na mesa mais pequena da cozinha e os avós, pais e tios na mesa da sala <br /></span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small;">Menos a avó que andava sempre em pé de um lado para o outro a servir toda a gente e esquecia-se dela<br /></span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small;">E os miúdos não queriam comer a sopa e os crescidos contavam anedotas que não sabiam que conseguíamos ouvir<br /></span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small;">Escrevo porque me amaram<br /></span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small;">Deram-me mundo e paz e alegria<br /></span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small;">Filhozes no Natal e corridas de bicicleta no verão <br /></span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small;">E agora eles aos poucos vão-se embora e levam bocados de mim<br /></span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small;">E aqui fico, sozinha com as minhas palavras <br />Eternamente incompleta<br /></span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small;">Por isso escrevo<br /></span><span face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="background-color: white; color: #222222; font-size: small;">E além do meu coração ficam para sempre nas minhas letras soltas</span></p>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-91491703679432623792022-10-15T09:43:00.001+01:002022-10-15T09:43:10.892+01:00Poemas para a minha filha - II<p><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">E quando me procuras para dormir<br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">De olhos a fechar, a esfregar o nariz e o livro da noite para ler<br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">E te encaixas no meu colo que é casa<br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">Eu regresso a casa também <br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">E por um bocadinho não há guerras<br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">Nem vírus ou doenças <br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">Nem trabalhos por entregar<br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">És só tu e eu<br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">Tu embalada em mim e eu embalada pelo teu respirar lento e tranquilo, paro e medito<br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">E agradeço <br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">Pela paz que és tu </span></p>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-66732312994664926662022-10-15T09:42:00.004+01:002022-10-15T09:42:29.986+01:00Poemas para a minha filha - I<p><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">Contigo ao colo à janela<br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">Com os teus olhos azeitona cheios de pássaros e gatos que correm e saltam e brincam e tu chamas com as tuas mãos pequeninas <br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">E o vento que dança com as folhas nas árvores<br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">E o colo que me dás a mim<br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">E como isso chega e é tanto<br /></span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">O mundo da janela e o mundo que és tu e sou eu e mais nada</span></p>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-67461417066839412002022-02-17T21:56:00.001+00:002022-02-17T21:56:52.032+00:00O que vês no espelho?<p> Alice, olha para o teu reflexo, diz o coelho branco. O que vês no espelho? Há quanto tempo estás perdida?</p><p>Aqui já não é o País das Maravilhas. É o País das Dúvidas. O País dos Adultos. Tu prometeste que nunca irias crescer. Que irias ser quem quisesses. Mas sempre seguiste as regras do teu livro. Só que agora deixaste as folhas rasgarem-se com o tempo. </p><p>Onde é que estão as regras, Alice? E o teu coração? Estou com pressa mas acho que vi o teu coração naquele buraco negro interminável. Tem cuidado para que a Rainha não o encontre. Tem cuidado com o teu coração, Alice. E talvez com a tua cabeça.</p><p>Dizes que não mas queres dizer que sim. Dizes sim mas queres dizer que não. O sabes tu, Alice? Sorris mas queres chorar. Estás perdida e o caminho é tão escuro. Não sei se vais conseguir regressar ao País das Maravilhas. </p><p>Tenho pressa, repete o coelho branco. Ali vai o teu coração. Tum tum tum tum. Consegues ouvi-lo?</p><p>- Espera! Consigo ouvir mas irei conseguir encontrá-lo? Está a bater tão alto. Não sei que caminho seguir! Uma voz na minha cabeça diz-me para virar sempre à esquerda. A menos que prefira virar sempre à direita. Que diferença faz se não sei para onde vou? Não sei que versão de mim existe e em que capítulo da da história estamos.</p><p>Só falo, falo, falo, falo, como sempre. E corro à procura do meu coração e à minha procura. Viro á direita? Ou à esquerda?</p><p><br /></p><p><br /></p>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-48983966870457285322021-11-11T22:35:00.003+00:002021-11-11T22:35:36.424+00:00Outono<p>Aquilo que mais adoro no outono é a forma como as folhas se desprendem lentamente das árvores, com o seu tom acastanhado, a viajarem lentamente em direção ao solo, uma viagem de renovação. Como histórias do passado que dão lugar ao futuro.</p><p>As folhas vão-se amontoando no chão enquanto a chuva cai miudinha e já se avistam algumas poças de água. Aqui e ali. Ali e acolá. Ping. Pong. A chuva já me vai molhando o casaco. </p><p>Apetece-me calçar as galochas e saltar nas poças, mas agora com outro pequeno par de galochas a meu lado. Recordo o desespero dos meus pais, que me diziam "sai daí" mas eu não saia dali. Por teimosia ou talvez pela repentina liberdade de correr pelas poças e de agarrar as folhas que o vento trouxe.</p><p>Em breve, vou-te levar a saltar pelas poças e pelas folhas, com umas pequenas galochas vermelhas. Porque os sapatos vermelhos me fazem sempre lembrar a Dorothy e o feiticeiro de OZ. </p><p>Entretanto, continuo a ver as folhas que se vão soltando e vou inventando histórias para cada uma. </p><p>São tantas histórias que tenho para contar. Que não nos falte o tempo, minha pequena princesa, para que te possa contar todas. E, quem sabe, ainda inventar mais algumas pelo caminho. </p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-43337571194780667942020-03-16T22:30:00.001+00:002020-03-16T22:30:40.279+00:00Um novo diaA caneta repousa finalmente sobre o papel, quando cai a noite dos amantes. Ele chega, boca sôfrega de amor, poeta de silêncios e horas nuas, pintando de esperança e sonho a casa que ainda cheirava a morte, desgosto, tristeza. Ele era a cor, inesperado arco-íris num abraço forte e quente, como o nascer de um novo dia. Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-24634381129583397572020-02-29T20:18:00.002+00:002020-02-29T20:18:42.018+00:00Até quando <div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="" data-block="true" data-editor="b591i" data-offset-key="61p0h-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="61p0h-0-0">
<span data-offset-key="61p0h-0-0"><span data-text="true">Até quando podemos ser crianças? Poderá ser para sempre, como na Terra do Nunca, do Peter Pan?</span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="b591i" data-offset-key="2gd5i-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="2gd5i-0-0">
<span data-offset-key="2gd5i-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="b591i" data-offset-key="27j4r-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="27j4r-0-0">
<span data-offset-key="27j4r-0-0"><span data-text="true">Só não quero perder a minha magia e a capacidade de acreditar e sonhar. Sonhar tanto, até me doer a barriga, porque os sonhos também nos confortam. </span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="b591i" data-offset-key="884eg-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="884eg-0-0">
<span data-offset-key="884eg-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="b591i" data-offset-key="7otda-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="7otda-0-0">
<span data-offset-key="7otda-0-0"><span data-text="true">Quero atravessar as correntes incertas da vida sem deixar de me entusiasmar, rir até às lágrimas pelos maiores disparates, rodar a minha saia e dar voltas sem sair do lugar.</span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="b591i" data-offset-key="2be2g-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="2be2g-0-0">
<span data-offset-key="2be2g-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="b591i" data-offset-key="9gslu-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="9gslu-0-0">
<span data-offset-key="9gslu-0-0"><span data-text="true">O que sobra quando perdemos totalmente a inocência e a bondade? Tem de existir um lugar em nós onde podemos guardar, a salvo, essa parte de nós.</span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="b591i" data-offset-key="5nmg4-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5nmg4-0-0">
<span data-offset-key="5nmg4-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="b591i" data-offset-key="88o8m-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="88o8m-0-0">
<span data-offset-key="88o8m-0-0"><span data-text="true">Mas vai escondendo essa caixa de tesouros, porque se mostrares a parte mais pueril de ti a toda a gente, o mundo vai encontrar formas de te afastar dela, porque não é assim que devias ser.</span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="b591i" data-offset-key="4vjie-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4vjie-0-0">
<span data-offset-key="4vjie-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="b591i" data-offset-key="abhi1-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ec49k-0-0">
<span data-offset-key="ec49k-0-0"><span data-text="true">Bem sei que não é assim, mas eu quero ser assado, conjugar todas as cores e usar laços no cabelo, trazer o sol dentro de mim e a luz, e levá-la comigo para todos os lugares, a falar pelos cotovelos, a tentar alegrar os que me rodeiam. </span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ec49k-0-0">
<span data-offset-key="ec49k-0-0"><span data-text="true"> </span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ec49k-0-0">
<span data-offset-key="ec49k-0-0"><span data-text="true">Choro e rio, zango-me e vivo, continuo a emocionar-me com a beleza e a poesia, com tudo o que pode acontecer à nossa volta, com as pessoas que podemos conhecer, com o que o futuro nos pode reservar. </span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ec49k-0-0">
<span data-offset-key="ec49k-0-0"><span data-text="true"><br /></span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ec49k-0-0">
<span data-offset-key="ec49k-0-0"><span data-text="true">E trago este segredo comigo. Lá no fundo, nunca cresci. Adaptei-me,mudei, vivi, aprendi e errei. Os anos correram atrás de mim e, por vezes, à minha frente. Mas guardo todas as peças originais de quem sou. Não perdi nenhuma. Não perdi o brilho do olhar da minha infância, enquanto tento agarrar o tempo e os demónios, que nos vão perseguindo.</span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ec49k-0-0">
<span data-offset-key="ec49k-0-0"><span data-text="true"><br /></span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ec49k-0-0">
<span data-offset-key="ec49k-0-0"><span data-text="true"><span data-offset-key="ec49k-0-0"><span data-text="true">E no fim do dia, quando deito a minha cabeça na almofada, acredito. E viajo até à Terra do Nunca, onde a magia nunca se esgota.</span></span> </span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="ec49k-0-0">
<span data-offset-key="ec49k-0-0"><span data-text="true"><br /></span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="b591i" data-offset-key="dv11s-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="dv11s-0-0">
<span data-offset-key="dv11s-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="b591i" data-offset-key="3mh4o-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="3mh4o-0-0">
<span data-offset-key="3mh4o-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-26994776464865997112020-02-20T11:18:00.001+00:002020-02-20T11:30:08.876+00:00Paris dos namoradosNão há maior chapada sobre a vida como um dia inteiro no hospital, com o coração nas mãos por alguém de quem gostamos. Sobretudo, depois de umas férias mágicas e fantásticas, num lugar de sonho. Regressar de Paris dos namorados para a sala de espera de um hospital foi das lições mais duras que já tive, para me lembrar que tudo pode mudar num segundo - felizmente, não mudou, e para me ajudar numa jornada que nunca mais acabava estiveram as fotos da torre Eiffel rodeada de balões aos corações, os nossos sorrisos frente ao palácio das princesas da Disney, a alegria de duas crianças de 30 anos que nunca cresceram. Porque não há maior tesouro que sermos felizes ao lado de quem amamos, e recordar esses momentos quando precisamos de um pouco de alento. É cliché e lamechas, mas é impossível negar: a vida são os nossos, e sem eles não somos nada.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_vM7U2Q5R3ovUz8ozBMJFKirUBD9kvcAVkKoCXjfTx1WTUNI8bKQ1i2shl7L_Fx9MO9uzyPRDFUsxqi50Ds6CxITKP51lgG0Sj4M0Kl4Fij9Ey4fl6MbF-ld4rXoye-pxqLtLRQ/s1600/1582197520223241-0.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_vM7U2Q5R3ovUz8ozBMJFKirUBD9kvcAVkKoCXjfTx1WTUNI8bKQ1i2shl7L_Fx9MO9uzyPRDFUsxqi50Ds6CxITKP51lgG0Sj4M0Kl4Fij9Ey4fl6MbF-ld4rXoye-pxqLtLRQ/s1600/1582197520223241-0.png" width="400" />
</a>
</div>
Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-25576804482126228382020-02-03T23:26:00.001+00:002020-02-03T23:34:26.883+00:00Estórias soltas IIOs rochedos que se transformavam em casas, o castelo imponente lá no alto... Tudo em Monsanto apaixonava José. Nunca quis deixar a aldeia: sonhava em ter uma livraria, e que fosse ali mesmo, na terrinha que o viu nascer. Não havia nenhuma, em Monsanto. Em miúdo, adorava ler e aguardava com ansiedade a passagem da carrinha-biblioteca que viajava pelas aldeias do interior, nos anos 60. Mas, alto e espadaúdo, forte e de perfeita saúde, quando chegou a hora de partir para tropa não pode escapar - nem quando, mais tarde, o mandaram para o Ultramar. <div><div>Quando regressou, após aqueles que seriam para sempre os piores quatro anos da sua vida, pensava que finalmente realizar o sonho de abrir a sua livraria. A primeira na aldeia.</div><div>Mas, em Monsanto, em vez de sorrisos e gritos alegres de felicidade, esperavam-no caras tristes e chorosas. O seu pai tinha morrido pouco tempo antes da sua chegada, e sabendo o tempo que as cartas demoravam a chegar a Angola, a família não lhe tinha dito nada. </div><div>Em vez da livraria, José dedicou-se à barbearia do pai, com dívidas para pagar e obras para fazer: e acabou, enfim, por passar a amar o seu novo ofício.</div></div>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-20327845766230679472020-01-27T01:49:00.001+00:002020-01-28T12:01:06.366+00:00O sino da minha aldeiaEntre o redemoinho de lençóis e os cabelos desalinhados, soava ao longe, meio abafado pelos cobertores, algo estranhamente familiar. Um som repetitivo e urgente, que me levou do suave torpor de uma manhã de domingo a mil e uma recordações com aquela banda sonora. De repente, percebi. Estava numa cidade do interior, e aquilo era o sino da igreja a tocar. Tão parecido ao som do sino da minha aldeia. Uma melodia que é como uma segunda língua, para quem cresceu ao ritmo daquele toque: a hora certa, a meia hora, as trindades ao anoitecer, a missa de domingo, a festa e a procissão, um casamento, o toque "a rebate" (um som agudo e aflitivo, que se ouve quando há fogo perto do povo e a chegar às casas, para pedir a ajuda de todos), e o toque que nos trespassa a todos de tristeza, o dobrar do sino, quando morre alguém da aldeia. Seja por que motivo for, o sino é o chamamento que todos reúne, para o bem e para o mal. A voz de um povo, que nunca esquecemos - e que ao primeiro toque, nos leva logo a abrir a janela, para ouvir melhor e perceber ao que chama. Para saber se os nossos precisam de nós.Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-57050879961621950802020-01-18T12:42:00.001+00:002020-01-18T12:47:04.854+00:00Verão com aroma a NesquickAcordo com o barulho das gargalhadas da minha mãe e da minha tia, na cozinha, a preparar o pequeno-almoço. É uma festa quando eles chegam. Há <i>croissants</i>, pão quentinho, doce de morango e de abóbora, mel para adoçar o chá ou o leite e ainda pãezinhos com chocolate, que a tia trouxe de França. Era tão bom quando eles vinham de férias no verão, íamos à praia e à Feira de Artesanato do Estoril ao final do dia, ainda com a pele quente do sol e a saber a mar. Mas há um aroma muito especial, que guardo desses dias: o cheiro a Nesquick, que a minha tia trazia para o pequeno-almoço dos filhos. Em minha casa nunca havia Nesquick, a não ser nessa altura. Eu, alérgica ao chocolate, não podia dar-me a essas liberdades. No verão, deixava-me levar pelo seu cheiro e sonhava que, um dia, poderia misturar aquele pó no leite sem medo de ficar doente.<div>Até hoje, a alergia ao chocolate ainda não me quis largar. Contento-me com essa doce recordação dos verões com aroma a Nesquick.</div>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-15935865287073397992020-01-15T22:59:00.001+00:002020-01-16T10:10:27.612+00:00FlamencaSó se ouvem sapatos a bater no chão. Rápidos, fortes, certos. Como uma marcha militar. Mas uma de mulheres, de compridas e negras saias. Golpe, planta, tacão. Golpe, planta, tacão. Volta. Golpe, planta, tacão. Volta. E outra vez. Tudo igual, mas para o outro lado. E de repente um passo novo, uma volta de tacão, desiquilibras-te e quase cais. Ponto final na marcha, ponto e vírgula aos passos que já sabemos de cor. Um passo diferente, uma mudança na rotina. Os teus olhos procuram outros, perdidos. O flamenco imita a vida ou é a vida que imita o flamenco? O pé bate rápido e violento como quem manda as tristezas embora e as mãos tocam forte uma na outra ao ritmo do coração: vivo, solto, livre. Como quem agarra a vida pelos colarinhos e diz agora quem manda aqui sou eu. A música toca alto e levantamos as mãos para um último olé! Afinal o flamenco imita a vida ou é a vida que imita o flamenco? <div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9YAipniUVYltgzUru205IG_LZaxxGzN_VOFI3k-vqnKIPFBeDo9R-k5zlVIzkE2tu20dZJbDwlfxNgID-yDCSAE90Rok1eLGRTaRQsGWBjIv4GR2Vr49cTwwsWgrUb-XympRkkg/s1600/1579129172775787-0.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9YAipniUVYltgzUru205IG_LZaxxGzN_VOFI3k-vqnKIPFBeDo9R-k5zlVIzkE2tu20dZJbDwlfxNgID-yDCSAE90Rok1eLGRTaRQsGWBjIv4GR2Vr49cTwwsWgrUb-XympRkkg/s1600/1579129172775787-0.png" width="400">
</a>
</div></div>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-55002009191371041752020-01-15T15:52:00.002+00:002020-01-15T18:43:27.729+00:00Estórias soltas I(Invento estórias por trás de olhares perdidos com que me cruzo)<br>
<br>
Uma casa abandonada, uma estrada esquecida. O meu lugar favorito em todo o mundo, de onde um dia quis a vida arrancar-me. Uma história de heranças levou-me até Paris, em busca de um tio desaparecido, tantas vezes chorado no olhar da avó. Odiei aquela missão desde o início, até que de repente o descobri. Foi amor à primeira vista. Um prédio singelo, de vasos à janela. Ali encontrei um novo abrigo. O meu bairro preferido de Paris, onde um dia te vi. Espreitava à janela as pessoas que passavam, apressadas, na esperança de o ver. A avó dizia que devia viver por ali. E então, vi-te, de sorriso simples e olhos brilhantes. Quis chamar-te, dizer-te olá, convidar-te para um café com um "sou nova aqui, não conheço ninguém"! Mas a voz não obedeceu. Deixo-me ficar, de olhos tontos de gente a correr. E é então que o vejo, também. Sozinho, de olhar apagado. Com três curiosas companhias. Um gato, um pato e um cão eram os melhores amigos de um homem que o mundo esqueceu.<br>
(Tal como a mim.)<br>
<br>Fátimahttp://www.blogger.com/profile/10978829369377026931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-10801575.post-29833305452500020102020-01-14T12:40:00.000+00:002020-01-14T12:42:22.033+00:00Espaços em branco<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div dir="auto" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">
Martelo furiosamente as teclas para preencher os espaços em branco entre as palavras e as frases. Mas quando sou eu o espaço em branco, o que fazer? Que história escrever? Devo, porventura, deixar que a história, ou a vida, soletrem o destino por mim?</div>
<div dir="auto" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">
<br /></div>
<div dir="auto" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">
Sorrio em falso quando as lágrimas ameaçam cair e refugio-me num livro. Conhecem-me melhor do que ninguém. Nas suas páginas descobri amigos e amores. Mergulhei nas suas histórias. </div>
<div dir="auto" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">
<br /></div>
<div dir="auto" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">
Os livros nunca me abandonam, são o local seguro para as minhas maiores aventuras. Quantas vezes o relógio converteu os minutos em horas enquanto os capítulos se sucediam diante dos meus olhos?</div>
<div dir="auto" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">
<br /></div>
<div dir="auto" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">
Nos livros não há espaços em branco, apenas palavras para alimentar a imaginação. Levam-nos aos destinos mais incríveis, aos sonhos mais inesperados. E enquanto os descubro pela noite fora, nada mais me pode magoar a não ser a ficção, onde se vive a fingir mas também se morre a fingir. Mas a dor por vezes é tão real que a consigo cheirar, ouvir e tocar.</div>
<div dir="auto" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">
<br /></div>
<div dir="auto" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">
Ou talvez a dor seja a minha, ou a tua, enquanto interpreto as palavras à minha maneira, e amo à minha maneira, lendo e relendo, inventando e reinventando. </div>
<div dir="auto" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">
<br /></div>
<div dir="auto" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">
Tentando preencher os espaços em branco da minha própria história.</div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com1